segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Fidel Castro, 86 anos


Fidel: Um tempo bem vivido, pela revolução e o socialismo



Neste 13 de agosto, transcorre o aniversário do líder da Revolução Cubana, Fidel Castro, que  completa 86 anos. Um tempo bem vivido, quase todo dedicado à sua pátria, à Revolução Cubana, à emancipação dos trabalhadores de todo o mundo, às grandes causas da humanidade, à paz e cooperação entre os povos.



Por José Reinaldo Carvalho, editor do Vermelho



Não por culto à sua personalidade, mas porque Fidel representa muito, ele recebe nesta data as homenagens do povo cubano e de milhões e milhões de amigos e admiradores em todo o mundo, entre estes estadistas e governantes, políticos, militantes, ativistas sociais e membros de associações de amizade e solidariedade com Cuba.



Fidel já não é o dirigente do governo de Cuba nem do Partido Comunista, onde já foi o principal titular, ocupando os seus mais destacados cargos. Mas de sua figura é inseparável a condição de comandante da Revolução Cubana.



Para os militantes revolucionários, lutadores pela causa do progresso social e emancipação da humanidade em todo o mundo, Fidel é  a personalidade mais lúcida de nossa época, a voz mais enérgica na denúncia dos crimes do imperialismo, o pensamento mais agudo a interpretar os gravíssimos problemas políticos e sócio-econômicos atuais e a orientar os povos em luta por liberdade, independência, autodeterminação, progresso social, justiça e pelo socialismo.



Inteiramente dedicado à batalha das ideias, da qual se assumiu como soldado, atua como um líder, seguido e cultivado por quem perscruta os caminos para levar adiante a luta dos povos nas novas condições históricas. “A vida sem ideias de nada vale. Não há felicidade maior que a de lutar por elas, disse em uma das suas reflexões”, há cinco anos.



E que ideias defende Fidel, o que o distingue de outras figuras de sua época? Nada  mais que os principios, a visão estratégica, a comprensão profunda daquilo que causa as infelicidades e catástrofes que assolam a humanidade: o sistema capitalista, o imperialismo, a orientação espoliadora, de opressão e guerra aos povos e nações, uma orientação que conduziria ao inevitável desastre se não se organizasse uma luta consequente de resistência e oposição.



O aniversariante de hoje desenvolveu ao longo dos anos a rebeldia, o espírito revolucionário, o patriotismo, o anti-imperialismo, assimilou e desenvolveu o marxismo-leninismo e disso nunca se afastou. No momento em que Cuba arrostava as piores dificuldades, em que era brutal a ofensiva do imperialismo e terrível o bloqueio, Fidel comandou a resistência. Com pulso firme, segurou a bandeira, manteve Cuba no caminho do socialismo e comandou a continuidade histórica da Revolução.



Quando, no início dos anos 1990, a contrarrevolução grassava em toda a parte, o líder da Revolução Cubana deu histórica entrevista à imprensa internacional. Naquele momento, estava em voga vaticinar que o socialismo em Cuba desapareceria no “efeito dominó” da queda dos governos socialistas em países do Leste europeu.

  

Dizia Fidel perante boquiabertos jornalistas: “Cuba é o símbolo da resistência. Cuba é o símbolo da defesa firme e intransigente das ideias revolucionárias. Cuba é o símbolo da defesa dos princípios revolucionários. Cuba é o símbolo da defesa do socialismo” (...) “O povo cubano vai saber estar à altura de sua responsabilidade histórica”... “E aqueles que mudaram de nome, não sei a quem vão enganar com isso! Imaginem que amanhã nós mudemos de nome e digamos: Senhores, o congresso aprovou que em vez de Partido Comunista de Cuba nos chamemos Partido Socialista de Cuba, ou Partido Social-Democrata de Cuba. Vocês creem que realmente mereceríamos algum respeito? Porque os que mudam de nome são os que mudaram de ideias ou perderam toda a sua confiança nas ideias, perderam suas convicções.” (3 de abril de 1990).



Fidel tem sido um mestre no estudo da realidade concreta, na busca de soluções originais, de acordo com as peculiaridades nacionais, para os problemas de sua época. Marxista-leninista convicto, estudou a fundo também o pensamento de José Martí, o líder da luta pela independência de Cuba. Fundiu na sua obra e ação política o pensamento marxista-leninista e o martiano e armado com esses pressupostos ideológicos educa a jovem geração.



Podemos afirmar sem risco de erro que na história da humanidade e da luta pela libertação dos povos de todo tipo de opressão e exploração, muito poucos líderes deram contribuição tão destacada como Fidel.



Entre estas contribuições, é indispensável ressaltar a Revolução Cubana, a defesa das suas conquistas, a épica luta contra o imperialsimo que tentou e tenta de todas as maneiras estrangular a nação, a solidariedade internacionalista com todos os povos, o exemplo edificante para o desenvolvimento da luta anti-imperialista na América Latina.



O nosso continente não seria o que é hoje, acumulando vitórias políticas contra o imperialismo e as oligarquias, sem a obra teórica e prática de Fidel, sem o exemplo inspirador e pedagógico da Revolução Cubana.



Ultimamente, Fidel tem dedicado suas reflexões para chamar a atenção a dois graves problemas que assolam o mundo nos dias atuais: a ameaça nuclear e a destruição da natureza. Não é à toa que alguns estadistas que tomaram a palavra na recente conferência Rio + 20 realizada no Brasil citaram as suas reflexões, especificamente sobre a questão ambiental. E que sua luta contra a hecatombe nuclear seja sempre mencionada pelos ativistas do Conselho Mundial da Paz.



Ao parabenizar Fidel Castro no transcurso do seu 86º aniversário, a melhor homenagem que podemos fazer é dizer que estamos ao seu  lado na luta à qual dedica o melhor dos seus esforços: a libertação dos cinco heróis cubanos presos injustamente em cárceres dos Estados Unidos. A resistência de  Antonio Guerrero, Gerardo Hernandez, Fernando González, Ramon Labañino e Renê González é também uma virtude inspirada nos ensinamentos de Fidel.

domingo, 12 de agosto de 2012

Denúncia: Assassinato de jornalistas


Jornalista sírio é assassinado por bandos terroristas



O jornalista 12 de agosto de 2012, 00:32Ali Abbas, chefe do Departamento de Notícias Internas da Agência Árabe Síria de Noticias Sana, foi assassinado por bandos armados.

Uma nota da Agência Sana informa que Abbas foi vítima de bandos armados na tarde de sábado (11) em sua residência na localidade de Yededet Artouz, situada a cerca de 15 quilômetros a sudoeste de Damasco.

Há poucos dias, um profissional da televisão, famoso apresentador de um programa de grande audiência, foi decapitado depois de um sequestro. O crime foi praticado por bandos terroristas, segundo as autoridades do país.

Na sexta-feira (10), um grupo armado sequestrou em Al Tal, a cerca de 30 quilômetros a nordeste de Damasco, uma equipe da televisão síria Al Ikhbariya, informou o porta-voz da rede.

Não é a primeira vez que os extremistas atacam essa rede de televisão. Há várias semanas foram atacados os estúdios, situados a 25 quilômetros da capital, o que resultou na morte de três jornalistas e quatro guardas da segurança, além de enormes danos nas instalações.

Na cidade de Alepo, no norte do país, também houve tentativa dos bandos armados de tomar as instalações da rede de TV.

Desde que se iniciou a crise na Síria, os meios de imprensa, tanto locais como internacionais, foram transformados em alvo dos bandos armados, que tratam de calar a informação no local sobre o que realmente acontece no país.

A Síria é alvo de uma intensa campanha midiática que distorce e fabrica uma realidade que não corresponde ao que de fato está acontecendo. Nesta campanha participam centros de inteligência ocidentais e árabes, com o apoio de meios de comunicação como Al-Jazzera, Al-Arabiya, BBC, CNN e outras grandes redes internacionais.

Prensa Latina


sábado, 11 de agosto de 2012

Eleições e frente democrática, um olhar europeu

No texto a seguir, o leitor conhecerá o cenário político, e a luta eleitoral e de massas na Europa. O artigo é de autoria de Erman Dovis, membro da direção do Partido dos Comunistas Italianos. O original foi publicado no site da Associação Marx 21 (http://www.marx21.it/) . A tradução para o português é do titular deste Blog.







Eleições e frente democrática, um olhar europeu

A cada um de nós já ocorreu deparar-se diante de uma questão que ciclicamente se repete na vida, que soa mais ou menos assim: “e agora, o que vou fazer?”. Sem dúvidas, todos, ao menos uma vez, temos respondido desta maneira: “sei muito bem o que não quero, mas ainda não sei o que quero.”

Por Erman Dovis (*), em Marx 21

Esta reflexão é talvez um pouco existencial, mas é muito útil para dar uma pequena contribuição à análise sobre as recentes eleições realizadas na Europa, que não deve dar lugar a simplificações de qualquer tipo. As presidenciais francesas viram o candidato da social-democracia Hollande, em aliança com o Partito Comunista e as forças  progressistas, derrotarem o presidente conservador,  Nicolás Sarkozy. Na Grécia devastada pela crise econômica e pelo massacre social, as eleições de maio assistiram à irremediável decomposição do eixo histórico da bipolarização Pasok-Nova Democracia, enquanto se fortaleceram as forças comunistas do Partido Comunista Grego (PCG) e a aliança progressista Syriza aumentou sua aceitação eleitoral.


A impossibilidade de dar vida a um governo de coalizão tornou inútil a resposta das urnas, sendo necessária uma segunda jornada eleitoral, realizada um mês depois, com os seguintes resultados: O PCG, de 8,5% um mês antes, passou a 4,5% do eleitorado. A coalizão Siryza subiu de  16% a 27%, enquanto a Nova Democracia , passando de  19,8% a 29%, conseguiu desta feita, em aliança com o Pasok (que caiu de 13,2 um mês antes a 12,2%) e a coalizão Dimar, formar um governo de coalizão.  


Sem cair em um sumário juízo superficial, é possível detectar como uma certa incomunicabilidade  à esquerda, unida a fortes pressões internas e externas contra os comunistas, gera desilusões e favorece tendências políticas plebiscitárias e autoritárias, como demonstra o fortalecimento consistente dos fascistas do Amanhecer Dourado, eficientes cães de guarda do Banco Central Europeu (BCE).



Na Itália, teve lugar a renovação de muitas câmaras municipais, algumas de certa relevância: o dado geral é a devastadora derrota da força que até agora era identificada como centro-direita, em particular o PDL (Polo da Liberdade) de Berlusconi e a Liga (Liga do Norte), de Bossi, implicados em vários escândalos. Os comunistas, quase todos unidos politicamente na Federação da Esquerda, apresentaram-se na maior parte em aliança com a centro-esquerda, confirmando em conjunto os bons resultados das últimas eleições administrativas provinciais.


Na Grã Bretanha, as eleições administrativas do meio do ano sentenciaram a claríssima vitória dos socialistas do Partido Trabalhista, a forte queda dos conservadores e liberal-democratas, e algo que não é pouco importante, a amarga rejeição à causa “um Boris em cada cidade”: a proposta, lançada pelos Tories (conservadores), e submetida a referendo, previa a eleição direta do prefeito em todas as grandes cidades. Uma tentativa politica para sondar uma virada em sentido plebiscitário que foi prontamente bloqueada.


A nossa rápida resenha europeia não pode deixar de evidenciar, por fim, a queda da CDU (União Democrata Cristã), de Angela Merkel nas recentes eleições regionais alemãs, assim como faliu na Espanha o assalto dos Populares (Partido Popular) da Andaluzia, que se manteve nas mãos da coalizão progressista formada pelo PSOE (Partido Socialista Obrero Espanhol) e pela Esquerda Unida (integrada pelo Partido Comunista). Devemos assinalar, para completar a  informação que o acordo entre a Esquerda Unida e os  socialistas na Andaluzia foi contrastado por um  referendo interno no Partido Comunista Espanhol, no qual venceu (por uma pequena diferença) a corrente contrária à aliança.


À luz destes fatos, vemos, portanto, como o povo europeu rechaça decididamente as políticas do FMI e dos poderosos cartéis econômicos que o dirigem. Substancialmente, são abatidos os governos vigentes e os que foram responsáveis, mais ou menos diretamente, de executar as diretrizes do BCE que, recordamos sempre, é um organismo privado em mãos de um punhado de oligarcas.


Esta rejeição categórica apresenta, porém, um lado muito obscuro: o dramático avanço continental do  fascismo que direciona o mal estar para uma perversa ótica  protecionista, nacionalista, racista. É o  caso, por exemplo,  da Frente Nacional na França, do Amanhecer Dourado na Grécia e do avanço da extrema-direita na Holanda. Ao lado desses fenômenos, surgem movimentos apartidários  aparentemente novos que, de uma rebeldia espontaneísta inicial, passam a estimular uma indiferença generalizada: bate-se na tecla da desconfiança nos partidos e na sua inutilidade, fala-se de uma não especificada “casta” capaz apenas de sugar salários com o dinheirto público, demonizam os sindicatos, jogando-os no caldeirão dos privilegiados a abater, procede-se em suma a uma crítica muito demagógica e superficial que inevitavelmente desemboca no plebiscitarismo e, portanto, na busca do homem forte, que rejeita o confronto democrático. As instituições por ora são consideradas inúteis. Típicos deste  fenômeno que vira à direita, são os representantes do Movimento Cinco Estrelas na Itália e dos Piratas na Alemanha (1)


Para completar o quadro geral, falta ainda um elemento que não pode ser separado da análise eleitoral: a resposta de classe à ofensiva do grande capital financeiro, à imoral e colossal acumulação de dinheiro da gravíssima crise econômica. Assistimos assim, de maneira inorgânica, a um choque frontal entre as grandes famílias dos monopólios e a classe operária. De uma parte, os cartéis, em extrema concorrência entre si, prosseguem no caminho de feroz saque e destruição de forças produtivas e humanas. De outra, a firme resposta dos trabalhadores que se opõem a estre criminoso cenário com extraordinária luta de resistência. É o caso, por exemplo, dos operários gregos da Siderúrgica Helênica, em greve desde novembro passado contra o plano de reestruturação empresarial que prevê reduções salariais e demissões. É o caso dos operários da Magneti Marelli de Crevalcore e da Curved Plywoods, pequena empresa de San Matteo della Decima: nessas duas fábricas, pretendia-se transferir a produção para o exterior. A imediata denúncia operária e a pronta intervenção dos trabalhadores impediram que o projeto empresarial se realizasse. Na Espanha, em face da infame reforma do mercado de trabalho, houve uma extraordinária resposta da classe operária: o sindicato organizou uma greve geral que levou ao bloqueio quase total de toda atividade nacional. Na Galícia não ocorreram atividades produtivas em nenhuma zona industrial, piquetes itinerantes impediam qualquer tipo de atividade em cidades  como Madri, Bilbao, Barcelona. A General Motors de Aragon foi totalmente fechada, e até mesmo os setores de saúde e educação nacionais foram paralisados. A recente duríssima luta dos mineiros das Astúrias é uma confirmação ulterior do que foi dito: um conflito de classe iniciado a partir de uma vanguarda consciente dos trabalhadores das minas foi estendida com uma amplitude de massas, obtendo a solidariedade e o apoio da totalidade das massas populares.


Em definitivo, estes exemplos demonstram como se verifica concretamente um tipo de  dualismo de poderes, que é manifesto e já não pode mais ser escondido. Trata-se de uma rejeição eleitoral clara em resposta às políticas de fome e de uma vanguarda da classe operária que, embora sem organicidade, responde golpe a golpe as estratégias das multinacionais. No meio, presas nas garras do conflito de classes, as grandes massas populares e da pequena e média burguesia refletem grande incerteza, confusão, desorientação, condições que podem ser instrumentalizadas em função de reviravoltas  políticas sempre mais marcadamente autoritárias.


Mesmo as instituições, vergadas e a serviço dos interesses do lucro máximo, são esmagadas até se auto-aniquilarem de fato. Verifica-se assim a  subordinação geral do país, refém dos interesses dos potentados  econômicos que chegam a  privatizar todo o Estado, que se transforma concretamente em um simples comitê dos negócios, um Estado mercenário, por conta da oligarquia, como testemunha finalmente o fato ocorrido em Maró, na Índia: soldados das forças armadas do Estado guardando o tesouro privado do magnata de turno.


Até mesmo a construção da linha ferroviária superveloz que atinge apenas as cidades do negócio da região  centro-norte é um exemplo nesse sentido, porque responde exclusivamente não às exigências dos interesses gerais, mas exclusivamente aos da Montezemolo & Cia. De fato, a rede ferroviária meridional e oriental é abandonada e levada ao fim. Substancialmente, a diferença na atual fase é a tendência do Estado a sucumbir aos interesses da empresa. Enquanto os fascismos de Mussolini, Hitler, Salazar e Pinochet eram regimes empreiteiros, agora se verifica um salto successivo: os vários Elkann, Montezemolo e sócios, parafraseando Luís  XIV, entram diretamente em cena afirmando com arrogância “O Estado sou eu”. E infelizmente isto é demonstrado pelos fatos.


Convém refletir atentamente e aprofundar estas novas mudanças sociais. Em definitivo, se a história de toda sociedade que existiu até agora é a história da luta de classes, é a classe operária que deve deter a ofensiva monopolista e dirigir a humanidade para a transição democratica e socialista. Os trabaIhadores não estão ainda de todo convencidos de ter esta responsabilidade histórica, este papel fundamental e é por isso que se produzem situações de forte oposição, embora em medida descontínua.


Mas, assim como isto é verdadeiro, é necessário rejeitar com força considerações  pessimistas que sustentama opinião sobre o atraso geral da classe operária. Não é verdade que os trabalhadores não têm  consciência de classe. Estas são afirmações e avaliações feitas por elementos pequeno-burgueses, por vezes mascaradas por um atraente extremismo de esquerda. São considerações dos que não têm confiança nos trabalhadores, querem utilizá-los como simples instrumentos da mudança social, mas a classe operária não se presta mais a este gênero de instrumentalização.


Portanto, é por esta série de motivos que, faltando a ação dirigente da classe operária, segue-se à revigorante vitória de Hollande na França uma atitude de substancial benevolência para com ele por parte dos grandes poderes econômicos. A política do novo presidente parece, com efeito, estar em linha de continuidade com o anterior governo conservador no que  concerne, por exemplo, às políticas econômica e externa. Esta última se resume a declarações agressivas e ameaçadoras do palácio dos Campos Elíseos para com a Síria de  Assad.


E ainda: a ausência do papel dirigente dos trabalhadores de fato permitiu o refluxo da revolta egípcia, que foi de fato controlada pelos aparatos militares e sabidamente se inscreveu em um contexto da restauração.


Para impedir isto, para viver um momento decisivo é necessária a força dirigente emancipadora da classe operária.


É necessário prosseguir o processo de fortalecimento e reconstrução do Partido Comunista, entendido como partido da classe operária, trabalhar pela unidade de ação dos  comunistas nos respectivos países e mesmo em nível continental, e unir as forças de esquerda e democráticas em uma grande frente de unidade democrática, contrastando o domínio dos monopólios econômicos e financeiros com campanhas de comunicação eficazes e propostas políticas concretas. É a presença ativa e dirigente dos trabalhadores que cria as condições para incidir nas estruturas das coalizões, não a taxa de alegada radicalidade dessas, ou pior ainda, certas atitudes de maximalismo marginal que às vezes se manifestam em alguns setores da esquerda.


É necessário trabalhar de fato coerentemente sobre dois planos paralelos e não distintos: a luta eleitoral indispensável para reingressar nas instituições e pela representação política, e a luta pelo poder econômico e o socialismo. Se não avança a perspectiva socialista, é a própria vida democrática que se torna ameaçada, agredida e desmontada, e não surgem alternativas. Hoje a decomposição  do sistema capitalista e as contradições cada vez mais estridentes do imperialismo têm acelerado o processo de privatização. O assalto do bando de Rockefeller e Cia desencadeia  guerras criminosas, genocídios, bombardeios, demissões em  massa, novas formas de escravidão. A família dos multimilhardários, privada de toda aparência de moralidade, leva ao extremo a sua sede de lucro máximo, afundando a sociedade em um novo tipo de feudalismo.


Cabe a nós ter a paixão, a consciência, a compreensão, a capacidade, a vontade e a experiência para impedi-lo.


(1) No que se refere ao caso italiano, o cenário é preocupante porque penetra profundamente mais, além da capacidade do palhaço genovês. A semelhança com a situação gerada com Tangentopoli é emblemática: no início dos anos 1990, a legítima intervenção judiciária da magistratura  contra a corrupção política é sabidamente manobrada pelo grande capital. Controlando a Mídia e manobrando os jornais  e a TV, criou-se um profundo consenso de massas a favor do acontecimento judiciário em sentido antipolítico. Demonizando tal sistema, se favorecem pulsões emotivas fortes, que são direcionadas a horizontes simplistas e plebiscitários, portanto autoritários. Obtinha-se um clima específico que mantinha  o poder judiciário em condições de sepultar instituições, o consenso popular e de massas se exprimia não mais no confronto político e democrático mas nas sentenças da magistratura. Uma vez terminada a embriaguês de grandes emoções coletivas e populistas, o resultado foi a eliminação definitiva da escada móvel salarial, a revogação da lei eleitoral proporcional em favor do sistema majoritário, e o retorno físico do governo fascista em 1994.



(*) Membro do Comitê Central do Partido dos Comunistas Italianos


Desabafo Olímpico

O Brasil tem vida vegetativa nos Jogos Olímpicos. Estão de parabéns os atletas, que independentemente da circunstância de terem ou não conquistado medalhas, deram o melhor de si e representaram condignamente o País.

É preciso extirpar as máfias que infelicitam o nosso desporto: A CBF, o COB, a mídia privada (e na privada), além dos financiadores privados que fazem de nossos atletas funcionários de agências de publicidade.

O resto é política rasteira, golpe publicitário e quimera.

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Greves do funcionalismo: Arrocho fiscal não é argumento

A presidenta Dilma Rousseff fez nesta sexta-feira (10) declarações que podem acirrar ainda mais os ânimos com o funcionalismo público em greve. Segundo ela, a prioridade do governo neste momento é manter as vagas dos trabalhadores que não têm estabilidade no emprego. Referindo-se à posição do governo de não atender as reivindicações dos grevistas, ela disse que o momento é de austeridade fiscal.
“Estamos enfrentando uma crise no mundo e o Brasil sabe, porque tem os pés no chão, que pode e vai enfrentar a crise e passar por cima dela, assegurando emprego para todos os brasileiros”, afirmou, ressaltando que o governo tem priorizado medidas destinadas a setores capazes de incentivar a economia.  “O que o meu governo vai fazer é assegurar empregos para aquela parte da população que é mais frágil, não tem direito a estabilidade, porque esteve muitas vezes desempregada”. As afirmações foram feitas em cerimônia de ampliação do Programa Brasil Sorridente, em Rio Pardo de Minas (MG).

Mais de 350 mil funcionários públicos estão em greve em todo o país. Os ânimos estão exaltados do lado das autoridades e de setores do movimento sindical. As relações entre as partes nunca estiveram tão deterioradas, ao ponto de a Central Única dos Trabalhadores e outros cinco sindicatos de servidores públicos terem decidido representar contra o governo na Organização Internacional do Trabalho (OIT). A representação acusa o governo de atitudes antissindicais.

A presidenta da República com certeza sabe o que diz e não há a menor sombra de dúvidas de que o que ela pretende assegurar é o melhor para o país. Conta com o crédito da população que a sufragou maciçamente nas eleições presidenciais e lhe confere elevados índices de aprovação.

Mas é preciso dizer que há muitos erros na postura do governo. Primeiramente, ao determinar o corte do ponto dos grevistas e decretar que os servidores públicos federais paralisados sejam substituídos por funcionários estaduais ou municipais equivalentes, o governo federal desrespeita o direito de greve e dá uma demonstração de intolerância.

É indispensável uma postura democrática e um diálogo efetivo. De nada adianta enviar ministros ou funcionários subalternos para negociar com os grevistas se eles repetem monocordicamente o argumento de que as finanças públicas não suportam o atendimento das reivindicações salariais.

Em segundo lugar, a austeridade fiscal não é argumento para ignorar as reivindicações salariais do funcionalismo. Se há um aspecto condenável na política macroeconômica vigente é precisamente o arrocho fiscal, porquanto o objetivo precípuo ao adotá-lo é assegurar os ganhos obtidos pelos credores do Estado na ciranda financeira.

Outros argumentos e outras posturas poderiam sensibilizar mais os trabalhadores em greve e o movimento sindical do setor público. Estes sabem que as defasagens salariais estão acumuladas há muitos anos e são uma herança maldita do governo neoliberal, conservador e fiscalista de Fernando Henrique Cardoso. Com certeza terão espírito público e sensibilidade para negociar.

Pretexto dos EUA para o bloqueio e novas agressões

No dia 31 de julho último, o Departamento de Estado dos Estados Unidos divulgou mais uma lista de países considerados patrocinadores do terrorismo, incluindo entre estes Cuba.

Há três décadas, os governos de turno que ocupam a Casa Branca persistem nesta prática nefasta. Com isso, tentam legitimar o cruel bloqueio que impõe ao país caribenho há meio século.
Usando a calúnia como bandeira, o imperialismo estadunidense tem, com documentos fajutos como este, um pretexto para intensificar ainda mais este bloqueio, com o qual busca estrangular economicamente o país e assim liquidar a Revolução.

Alguns outros países, que se opõem à orientação retrógrada dos Estados Unidos e aos seus planos hegemonistas, também têm sido apontados intermitentemente nas listas elaboradas pelo Departamento de Estado com a assessoria da Cia e do Pentágono: Entre estes, a Líbia, o Iraque, a República Popular Democrática da Coreia e a Síria.

Depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos introduziram um novo conceito. O país do Tio Sam passou a falar da existência do “eixo do mal”. De acordo com as conveniências de Washington, a lista se ampliava. No auge da ofensiva militarista do governo de George W. Bush [2001-2008], chegou-se a falar da existência de cerca de 60 países “terroristas” ou “patrocinadores do terrorismo”.  Foram catalogadas também organizações políticas insurgentes.

O Departamento de Estado, hoje sob a titularidade da senhora Hillary Clinton, maneja também listas de países que segundo os critérios arbitrários e unilaterais  dos Estados Unidos, “violam os direitos humanos” e estão sujeitos à punição do que chamam “comunidade internacional”.

Neste caso, a lista é muito mais ampla e inclui, além dos designados como patrocinadores do terrorismo, países como a China, a Rússia, a Bielorrússia, o Irã e a Venezuela, entre outros.
De todos os ângulos que se analise, a atitude do governo estadunidense sobre Cuba é um anacronismo. Até mesmo a justificativa apresentada para incluir o país entre os patrocinadores do terrorismo é frágil dentro do próprio raciocínio de quem a elaborou. A acusação que pesa sobre a maior das Antilhas é a suposta falta de medidas no sistema bancário para enfrentar a lavagem de dinheiro e transações financeiras vinculadas ao terrorismo.

A fragilidade da posição norte-americana é tamanha que muitas personalidades e organizações que não podem ser consideradas favoráveis ao sistema político cubano têm pedido ao governo dos Estados para reconsiderar a posição. Artigo publicado nesta quinta-feira (9) na página da agência noticiosa cubana Prensa Latina informa que em dezembro de 2011, as organizações não governamentais norte-americanas Grupo de Trabalho sobre a América Latina e o Centro de Política Internacional exigiram ao Departamento de Estado que Cuba fosse retirada da lista de países terroristas.

Em março passado, o  general John Adams, ex-representante militar dos Estados Unidos na Organização do  Tratado do Atlântico Norte (Otan) e David W. Jones assinaram um artigo publicado no jornal The Hill, em que pedem à Casa Branca para retirar Cuba da lista e pôr fim a sua política em face do país caribenho, por eles designada como “contraproducente”. Os autores chegam ao ponto de afirmar que essa política solapa os esforços de Washington em sua “luta contra o terrorismo”.

Em maio, membros do grupo de trabalho acadêmico Cuba-Estados Unidos, integrado por nove acadêmicos estadunidenses da American University e oito cubanos da Universidade de Havana, também se dirigiram ao governo para reivindicar a retirada de Cuba da indigitada lista.
Um desses acadêmicos, o professor Philip Brenner, da American University, sugeriu que o enfrentamento ao terrorismo poderia ser uma área em que houvesse uma abordagem construtiva entre os dois países.

A lista divulgada em 31 de julho provocou outras enfáticas reações nos Estados Unidos. O professor cubano-americano Arturo López-Levy, pesquisador associado da Escola de Estudos Internacionais Josef Korbel, da Universidade de Denver, declarou que incluir Cuba na lista é uma demonstração a mais de que a política norte-americana para com esse país é um cemitério da ética e das estratégias racionais.

Na própria cidade de Miami, valhacouto de terroristas de origem cubana que cooperam com o governo dos Estados Unidios para desestabilizar a Ilha, surgiram reações.  Elena Freyre, presidenta da Fundação pela Normalização das Relações entre Estados Unidos e Cuba qualificou de vergonhoso e hipócrita incluir Cuba nesta lista do Departamento de Estado.

A lista supostamente antiterrorista dos Estados Unidos é motivo de preocupação para todas as nações e forças políticas que defendem a autodeterminação dos povos e a paz mundial.

Afinal, em nome do combate ao terrorismo e da defesa dos direitos humanos, o imperialismo estadunidense tem cometido muitas atrocidades e perpetrado guerras de agressão. Nos tempos recentes, foi assim na antiga Iugoslávia, no Afeganistão, Iraque e Líbia. É com os mesmos pretextos que prepara afanosamente a guerra contra a Síria, submete a forte pressão o Irã e demonstra que não renuncia à sua política intervencionista na América Latina, pondo na alça de mira países anti-imperialistas como a Venezuela e a Bolívia.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Síria e Irã enfrentam o imperialismo

Resistência e diplomacia x guerra no Oriente Médio
O governo iraniano anunciou nesta quarta-feira (8) que realizará uma reunião de alto nível com a presença de mais de uma dezena de países da Ásia, África e América Latina para debater a delicada e complexa situação vigente na Síria e buscar soluções diplomáticas para a crise cruenta em que o país árabe está engolfado há 17 meses.

A Chancelaria iraniana e o próprio presidente da República Islâmica reiteraram a rejeição a qualquer solução militar.

Observa-se aí uma abissal distância entre a posição iraniana, compartilhada pelo governo sírio, e a das potências ocidentais, à frente o imperialismo estadunidense, que apostam na guerra civil, na fragmentação da Síria e, se for necessário para levar adiante seus planos, na própria intervenção armada.

Por enquanto, as potências ocidentais financiam e armam o chamado Exército Livre da Síria, formado por militantes da oposição e mercenários oriundos do Afeganistão, Iraque e Líbia. Contam com o apoio da Turquia, cuja fronteira com a Síria foi transformado em corredor por onde passam mercenários e armas. Na retaguarda financeira e midiática encontram-se as monarquias reacionárias da Arábia Saudita e do Catar. E o indefectível Estado sionista israelense, que age como inimigo figadal da Síria, país que sempre apoiou as forças patrióticas árabes e palestinas.

O Irã tem sido um dos aliados mais leais do governo sírio, desde que há 17 meses se iniciaram os conflitos no país.

Com toda a clareza, suas autoridades têm estado disponíveis para organizar a resistência aos planos intervencionistas do imperialismo estadunidense e seus aliados na região do Oriente Médio. "O Irã não permitirá que o eixo de resistência, do qual considera a Síria uma parte essencial, seja destruído de qualquer maneira que seja”, enfatizou Saeed Jalili, autoridade iraniana que visitou o Líbano e Síria no início desta semana.


A via iraniana e síria para a solução diplomática para o conflito no país árabe contrasta com o caminho escolhido pela oposição, que pode ser qualificado de terrorista.  

Nenhuma dúvida resta sobre quem defende a paz e quem defende a guerra no Oriente Médio. Recorda-me a alocução do presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad, quando de sua passagem pelo Brasil durante a Conferência Rio + 20 no Rio de Janeiro, em junho último. Ele defendeu a Paz como imperativo da Justiça.

Que contraste com as concepções militaristas e belicistas dos imperialistas norte-americanos e dos sionistas israelenses!

Infelizmente, o Brasil anunciou, por meio de informação do Itamaraty nesta quarta-feira (8) que não participará do encontro convocado pelo Irã. Apresentou uma justificativa técnica, que soa como desculpa esfarrapada: não tem participado tampouco do “encontro dos amigos da Síria”, uma iniciativa das potências ocidentais. Uma pena, pois o Brasil teria muito a dizer e contribuir para a formulação e execução de um plano de paz.

Em tempo, para agendar e refletir sobre quem defende a paz, quem a guerra. No final de agosto, o Irã hospedará outro encontro internacional, este de ainda maior envergadura – a reunião de cúpula do Movimento dos Países Não Alinhados.


Análise da conjuntura internacional

A conjuntura internacional em breves traços

Em 14 de julho passado, participei por meio de videoconferência, do simpósio “Humanizar a economia para sair da crise”, realizado pelo Centro Gramsci, na cidade italiana de Rionero in Volture. Publico aqui a íntegra de minha alocução.



São dois os traços principais da atual conjuntura internacional: o agravamento da crise estrutural e sistêmica do capitalismo e o aumento das ameaças à paz e à segurança internacionais.

Um fator incide sobre o outro. Esgota-se o repertório das medidas chamadas “anticíclicas” dos governos a serviço dos monopólios do capital financeiro. Há muita retórica seguida da elaboração de pacotes supostamente voltados para a recuperação econômica e a solução dos problemas sociais.

Mas a lógica desses pacotes é cada vez mais perversa, pois cobram alto preço aos trabalhadores. O que prevalece é o arrocho dos salários, a precarização dos serviços públicos, a privatização e a rendição às leis cegas do mercado.

Por isso, resta a esses governos a ação política e repressiva contra as forças progressistas e os movimenrtos sociais, cada vez mais criminalizados e perseguidos. Manifestam-se nos países capitalistas perigosas tendências antidemocráticas.

A crise é também a base para as principais tensões políticas no plano internacional. Inevitavelmente eclodem as contradições interimperialistas e crescem as ameaças de agressão e guerra contra países soberanos, no mesmo ritmo em que se desenvolve a militarização. Esta é a tônica da situação, ainda que não esteja no horizonte uma conflagração geral entre as potências.

A crise do capitalismo

Os principais países capitalistas se encontram com suas economias paralisadas e aumentam seus impasses. Na Europa, onde a crise é mais aguda, pacotes de austeridade e injeções de dinheiro para salvar o sistema bancário revelam-se medidas inócuas e só contribuem para agravar a crise econômica e social.

A receita dos governos a serviço do capital monopolista-financeiro para contornar a crise é orientada pelo interesse de preservar os investimentos e os lucros do sistema financeiro. Esses governos prometem reduzir o déficit e o endividamento cortando na carne da classe trabalhadora, reduzindo subsídios aos produtores rurais, precarizando os serviços públicos e arrochando o funcionalismo público.

A receita é antiga e não difere daquelas que foram impostas no passado a países como o Brasil pelo FMI ao longo da chamada crise da dívida externa, que custaram décadas de desenvolvimento e uma intolerável depreciação da força de trabalho. Em poucas palavras, os governos a serviço do capital monopolista-financeiro governo propõem que a classe trabalhadora pague pela crise mundial do capitalismo, de modo a assegurar os privilégios da banca internacional, que é de longe a maior responsável pelas turbulências financeiras.

Os trabalhadores e os povos sofrem as consequências da crise do capitalismo e da violenta ofensiva antissocial empreendida pela grande burguesia monopolista.

O desemprego afeta 17 milhões de trabalhadores na Zona do Euro. Na Grécia e na Espanha a taxa supera os 20%.

Foi nesse ambiente que o Conselho Europeu se reuniu em finais de junho. Em meio a sérias divergências, sobretudo entre a Alemanha e a França, sob a máscara de adotar “políticas de crescimento”, decidiram mais uma vez dar apoio financeiro direto à banca por via do Fundo Europeu de Estabilização Financeira e do Mecanismo Europeu de Estabilização, voltando as costas para os problemas sociais.

Nos países em desenvolvimento, nomeadamente a China e a Índia, a economia desacelera-se moderadamente. A China tem tomado medidas de estímulo à economia reduzindo a taxa de juros para financiamentos e aumentando o investimento público. Espera crescer 8,2% este ano. O Brasil sofre maiores repercussões da crise mundial, enfrenta momentaneamente dificuldades com o seu comércio exterior e a redução do ritmo de crescimento da economia, particularmente o setor industrial.   

O fato é que se acentua o cenário de estagnação da economia mundial, variando de intensidade de país a país ou região. São vazias de sentido as considerações sobre o caráter limitado ou conjuntural da crise. Ela é sistêmica, estrutural e generalizada. Uma crise capitalista prolongada, que vive uma fase aguda também prolongada.

Essa crise não surgiu ontem como um raio em céu azul. Desde 1973, o mundo capitalista está perdendo fôlego.

Trata-se de uma crise civilizatória cuja solução não está em medidas tópicas e superficiais, mas na ruptura com o próprio sistema. O capitalismo já ameaçou arrasar a civilização nos terríveis anos de guerra entre 1914 e 1945, agravados pela Grande Depressão de 1929 e culminados com o genocídio de Hiroshima e Nagasaki.


A crise atual tem sua origem em 1973, quando o presidente Richard Nixon tentou interromper a queda da economia estadunidense  provocada pelos gastos da guerra do Vietnã, o aumento dos preços do petróleo e o declínio na taxa de lucro. Unilateralmente desvinculou o dólar – moeda de câmbio internacional – do padrão ouro e o pôs a “flutuar”. Revogava assim, em proveito dos capitais ianques e em detrimento dos demais países – sobretudo os pobres – os acordos de Bretton Woods, que pautaram as regras da economia internacional sob a batuta dos Estados Unidos depois da 2ª Guerra Mundial.

A partir de então, Washington empreendeu uma descontrolada impressão de dólares e de endividamento sem respaldo produtivo, com os quais inundou os circuitos financeiros globais de moeda desvalorizada. A especulação financeira passou a ocupar um lugar muito mais relevante que a produção e o comércio na circulação monetária e reforçou as políticas neoliberais.

Essas políticas são conhecidas: diminuição do Estado, contenção salarial, desregulamentação financeira, precarização dos serviços públicos, desmantelamento das conquistas dos trabalhadores, circulação livre de capitais, privatização do patrimônio público, socialização das perdas das corporações.

Em 2008, eclodiu a crise financeira dos chamados subprimes nos Estados Unidos. Em 2010, irrompeu na Europa a chamada crise da dívida soberana com graves consequências sociais. Não está descartada a hipótese de que sobrevenha um novo colapso econômico-financeiro. 

As crises anteriores de origem financeira dentro desta onda se manifestavam na periferia: dívida externa da América Latina (1982), México (1994-1995), “tigres” asiáticos (1997-1998), Rússia (1998), Brasil (1999), Turquia (2001) e Argentina (2002). Não é ocioso sublinhar que o capitalismo experimentou graves crises desde o século 19, embora a atual seja comparável apenas com a Grande Depressão de 1929 e ainda seja cedo para conhecer sua real magnitude.

As ilusões no e do G-20

Recentemente, reuniu-se no balneário mexicano de Los Cabos o chamado G-20, entre promessas de medidas “anticíclicas” e ilusões sobre o papel do grupo na situação internacional.

O G-20 foi criado em 1999, com o objetivo proclamado de contornar ou encontrar soluções imediatas para as crises das balanças de pagamentos das economias chamadas emergentes durante a segunda metade da década de 1990.

Supostamente, estabelecer-se-ia uma cooperação econômica e financeira ampla e abrangente, com base em critérios de objetividade, entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento. Entre 1999 e 2008 participavam do G20, alcunhado de “financeiro”, apenas os ministros das finanças e os presidentes dos bancos centrais.

A partir de 2008, com a realização da Cúpula de Washington, no ocaso da presidência de George W.Bush, em plena eclosão da crise econômico-financeira, o G20 passou a reunir também chefes de Estado e de governo.

A Cúpula de Washington foi, assim, a primeira do G20. Realizou-se entre 14 e 15 de novembro de 2008, por proposta da União Europeia. "Estamos decididos a aumentar nossa cooperação e trabalhar juntos para restaurar o crescimento global e aprovar as reformas necessárias nos sistemas financeiros mundiais", afirma o comunicado conjunto.

De lá para cá, tiveram lugar as cúpulas de Londres (abril de 2009), Pittsburgh (setembro de 2009), Toronto (junho de 2010), Seul (novembro de 2010), Cannes (novembro de 2011). Esta de Los Cabos é a 7ª cúpula do G20. Já está acertado que a próxima se realizará na Rússia, em 2013. A 9ª cúpula terá como país anfitrião a Austrália, em 2014, e a 10ª ocorrerá na Turquia. Isto se não ocorrerem maiores sobressaltos econômicos, financeiros e políticos que obriguem os alquimistas do neomultilateralismo a inventarem novas fórmulas de grupos de coordenação.

A crise econômico-financeira internacional que eclodiu em 2008 deixou patente o fracasso das políticas macroeconômicas neoliberais e conservadoras decididas no âmbito do G7 (Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Japão e Canadá). Saltava aos olhos o efeito deletério da desregulação dos mercados financeiros.

Foi nesse contexto que o G20 ganhou relevo, pois passou a ser considerado o principal fórum para uma cooperação econômica internacional mais alargada, conforme se estabeleceu na Declaração de Pittsburgh, aprovada na cúpula de setembro de 2009.

Progressivamente, com a sucessiva realização das Cúpulas, criou-se um consenso, num jogo diplomático de aparências, de que as discussões e decisões relacionadas com a crise e a busca de medidas para a sua solução deveriam transferir-se de foros restritos, como o G7, para o G-20.

Os países imperialistas, de economia desenvolvida, com posição dominante na economia mundial, sendo o epicentro da crise, perderam a legitimidade para ditar as normas da economia internacional. Isto coincidiu com a maior emergência de economias de países como China, Rússia, Índia e Brasil, entre outras.

Tendo como pano de fundo a interdependência econômica, comercial e financeira no quadro da globalização capitalista, tornou-se imperioso, para a própria sobrevivência do sistema, buscar uma maior cooperação entre os países desenvolvidos e os chamados emergentes.

 

Isto gera a ilusão de que o G-20 tem maior legitimidade e autoridade democrática, sendo uma espécie de manifestação de uma tendência à democratização das relações internacionais, o embrião de uma nova ordem multilateral. Surge também a ilusão de que com o G-20 o mundo passaria a contar com um instrumento eficaz para coordenar uma resposta eficiente à crise econômica e financeira, evitando assim o colapso do sistema econômico internacional.

As ilusões são de tal ordem que de maneira mais disfarçada, renasce na boca de alguns a ideia do “ultra-imperialismo”, de Karl Kautsky, a quem Lênin designava como renegado.

Os países considerados emergentes, entre eles o Brasil, usam o G20 como espaço de luta para alargar sua participação na economia internacional e defender-se de medidas dos países ricos que atentam contra sua soberania. Mas é ilusório imaginar que através do G20 seja possível mudar num sentido progressista, popular e patriótico a estrutura e a arquitetura do sistema financeiro e econômico internacional.

Já em novembro de 2009, logo após a Cúpula de Pittsburgh, o 12º Congresso do Partido Comunista do Brasil criticava como um dos aspectos salientes do quadro internacional, sobretudo na conjuntura de crise econômica e financeira, “a tentativa [do sistema imperialista] de fortalecer organismos de coordenação, nos quais não poucas vezes estalam também rivalidades e contradições interimperialistas, além de conflitos de interesse entre as potências dominantes e os países emergentes”. De acordo com o documento, aprovado por unanimidade no Congresso, “a ação desses organismos tem-se revelado um fracasso do ponto de vista das ‘soluções’ para a crise, da ‘regulação’ do mercado de capitais e da promoção do ‘desenvolvimento’ e ‘ajuda’ aos pobres”. O documento advertia para o invariável objetivo do imperialismo de concentrar poderes e concertar posições tendo em vista o domínio econômico e político do mundo. O Congresso do PCdoB mencionou especificamente a nova articulação. “O G-20 financeiro espelha uma nova realidade no mundo, em que as grandes potências imperialistas não podem decidir sozinhas e países emergentes como o Brasil, a China, a Rússia e a Índia, conquistam novos espaços, jogam novo papel, disputam em defesa de seus interesses nacionais e contribuem para a luta por uma nova ordem econômica e política. É falsa, porém, a tese sustentada por alguns chefes de Estado de potências imperialistas de que o G-20 corresponde a uma “revolução” e a uma ‘democratização profunda’ das relações internacionais”.

Intervencionismo e lutas dos povos

É no quadro de crise que aumenta a instabilidade política e se intensificam as ameaças às nações soberanas e aos povos. Apesar da retórica “multilateralista” e pacifista, o que se vê é o aumento da agressividade e do militarismo das potências imperialistas.

Está em curso uma escalada de pressões, ingerências e ameaças de agressão contra a Síria. Configura-se o cenário para uma intervenção militar no país. O que as potências imperialistas discutem é se o ataque teria ou não a cobertura de uma resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, razão pela qual inistem no apoio diplomático da Rússia e da China para esse fim.

Ultimamente, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a sua secretária de Estado, Hillary Clinton, aumentaram o tom da exigência de que o presidente sírio renuncie ao governo do país e tome o caminho do exílio, infelizmente secundados pelo presidente francês, François Hollande, eleito com os votos da esquerda. Hollande foi o anfitrião em Paris de uma reunião do grupo autodenominado “Amigos da Síria”, que age de fato como um inimigo da nação árabe e agasalha em seu seio grupos da oposição refratários ao diálogo e aos métodos democráticos.

Também o Irã está sob ameaça de ataque das potências imperialistas, acusado de violar os direitos humanos e de fabricar a bomba atômica.

Mais uma vez, as forças imperialistas pretendem justificar sua escalada, que pode levar a uma nova guerra no Oriente Médio, com falsos pretextos, assim como formulam falsas teorias de relações internacionais. Agora, está em voga o conceito de “Direito de proteger”, ou “Responsabilidade de proteger”, com o que se pretende dar ares de justiça e de ação coletiva da chamada “comunidade internacional” a atentados contra a carta da ONU e ao conjunto dos regulamentos, normas e convenções que conformam o Direito Internacional.   Na verdade, estamos diante de mais uma ofensiva contra legítimos direitos democráticos e nacionais, contra as noções de soberania e autodeterminação.

A recente intervenção na Líbia e o assassinato do líder do país são reveladores do ponto a que podem chegar as forças imperialistas. Fizeram o mesmo no Iraque, onde além da intervenção militar assassinaram o ex-presidente da República.

Nada disso surpreende se temos em conta que o ex-presidente George W. Bush, logo após os atentados de 11 de setembro de 2001, prometeu não só guerrear contra os países que considerava integrantes do chamado “eixo do mal”, como eliminar fisicamente indivíduos – chefes de Estado ou ativistas – que segundo os critérios da CIA e do Pentágono fossem considerados “terroristas”.

É o que os Estados Unidos fazem sistematicamente por meio dos ataques com os aviões não tripulados “drones” na fronteira entre o Afgeganistão e o Paquistão, nos quais não se poupa a vida das populações civis. Os crimes cometidos causam a indignação dos democratas e anti-imperialistas em todo o mundo, e provocaram o estupor do ex-presidente Jimmy Carter, que em contundente artigo publicado no New York Times, chama a atenção para o “raro e cruel recorde” de violações dos direitos humanos pelos Estados Unidos.

O sentido principal dessa ofensiva é executar, dar concretude e continuidade ao plano de reestruturação do Oriente Médio, para viabilizar o aumento da presença do imperialisimo na região, visando a dominar as riquezas estratégicas ali existentes e a obter posições vantajosas na luta pela hegemonia no mundo.

Para isso, querem afastar os governos que de alguma forma resistem à dominação imperialista na região e substituí-los por regimes dóceis e adaptáveis aos seus interesses. É esse também o sentido da posição adotada pelo imperialismo vis-à-vis à chamada “Primavera árabe”.

Recentemente, em 20 e 21 de maio, realizou-se em Chicago mais uma reunião de cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Toda vez que essa organização se reúne, os direitos democráticos dos povos, a segurança internacional e a paz mundial são ameaçados. Como braço agressivo do imperialismo, a Otan atualizou o seu conceito estratégico em 2010, dando um novo passo para concretizar seus planos intervencionistas. Agora, estão em pauta a corrida aos armamentos, o investimento em novas armas e a ampliação de sua rede mundial de bases militares.

O imperialismo militariza as relações internacionais, e intensifica as ameaças para a realização de novas guerras. Os Estados Unidos recentemente também lançaram uma nova doutrina militar, atribuindo prioridade à presença na Ásia.

América Latina

A tendência principal em nossa região continua sendo a do aprofundamento das conquistas democráticas e patrióticas que se sucedem às vitórias eleitorais das forças progressistas em muitos países.

Contudo, manifesta-se também a reação do imperialismo e das forças retrógradas locais. Recentemente, teve lugar um golpe de Estado, com aparência de “legalidade”, no Paraguai, que destituiu o presidente legítimo de Fernando Lugo. O mesmo já tinha sucedido no ano de 2009 em Honduras. Houve repetidas tentativas de golpes na Venezuela, no Equador e na Bolívia. Tudo isso eleva a vigilância das forças democráticas da região para preservar as conquistas democráticas e avançar na realização de mudanças políticas, econômicas e sociais com caráter progressista.

Em 7 de outubro próximo realizar-se-ão as eleições presidenciais na Venezuela, em que estarão em campos opostos o presidente Chávez, candidato à reeleição, e o candidato da direita com apoio do imperialismo, Henrique Caprilles. O líder bolivariano anti-imperialista, Hugo Chávez, assume-se como o candidato da pátria, com um programa democrático, patriótico e anti-imperialista. O outro, por óbvio, é o candidato apátrida.

A eleição na Venezuela é a batalha política mais importante no momento para todos os latino-americanos progressistas.

A crise do capitalismo e as tendências agressivas do imperialismo, longe de intimidar, são motivos que levam ao levantamento dos povos. Em todas as latitudes há luta, demonstrando que o imperialismo não é invencível e pode ser derrotado.

Editorial

Resistir já é vencer



A humanidade atravessa um momento crucial em sua existência, caracterizado por terríveis paradoxos. Jamais em toda a história foram tamanhas as possibilidades de desenvolvimento econômico, progresso social, justiça, igualdade e paz.

Por outro lado, são avassaladoras as ameaças à própria vida do ser humano no planeta. Uma crise estrutural e sistêmica do capitalismo liquida conquistas obtidas com sangue, suor e lágrimas pelos que tiram seu sustento do trabalho.

Os anos recentes foram marcados por muitas ilusões de que os governos burgueses – conservadores ou social-democratas – seriam capazes de encontrar soluções virtuosas para os impasses do capitalismo e abrir uma nova era de desenvolvimento. O ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, inebriado com passageiros indicadores econômicos positivos, chegou a vaticinar a superação das leis econômicas objetivas descobertas por Marx.

Acadêmicos pretensiosos e escribas social-democratas urdiram a fábula da restauração da liderança econômica estadunidense. Predispostos, renderam-se fascinados ao mito e cuidaram de desmoralizar as proposições de rupturas revolucionárias como delírios catastrofistas. Confundindo defensiva estratégica com adaptação à “ordem” do “fim da História”, rebaixaram a estratégia da esquerda a uma gradual “superação do capitalismo”.  

A realidade se impôs de maneira dramática, com o prolongamento da crise estrutural e sistêmica, para a qual o repertório de medidas chamadas “anticíclicas” dos governos a serviço dos monopólios do capital financeiro revelou-se inteiramente inócuo. Há muita retórica, pacotes supostamente voltados para a recuperação econômica e a solução dos problemas sociais, teorizações vazias e confusas e até a tentativa de ressuscitar antigos paradigmas.

Sobre esta base, germinam e se desenvolvem os conflitos políticos, reveladores das principais características do sistema político dominado pela burguesia monopolista-financeira e pelas potências imperialistas. Cada vez mais, como constatara Lênin há um século, este tende ao reacionarismo e à guerra.

Crescem como nunca, independentemente de quem ocupa os governos de turno nas grandes potências que dominam o mundo, as tendências antidemocráticas, a criminalização e repressão às lutas sociais, o militarismo e o belicismo. As armas nucleares, os pactos agressivos como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), as bases militares espalhadas pelo mundo fazem parte desta tendência.

Há uma escalada de pressões, ingerências e ameaças de agressão a vários países que lutam para se afirmar como Estados  soberanos. No alvo da ofensiva imperialista estão os países do Oriente Médio, como a Síria e o Irã, obstáculos que o imperialismo estadunidense e seus aliados pretendem remover para executar seu antigo plano de domínio da região, estratégica do ponto de vista econômico e geopolítico para forças que ambicionam o domínio do mundo.

Na Ásia, a potência estadunidense desenvolve um jogo estratégico de longo prazo, tendo como alvo a China. De imediato, reorienta sua estratégia militar para a região, ao tempo em que tenta aniquilar a Coreia Popular.

Na América Latina, o imperialismo atua para isolar, estrangular e derrotar as experiências revolucionárias. No seu alvo estão Cuba e Venezuela, prioritariamente. O imperialismo estadunidense não aceita o fim da era do pan-americanismo sob sua hegemonia e tudo fará para impedir que na região um dia chamada de Nossa América pelo líder independentista cubano José Martí, forme-se um novo polo geopolítico soberano e progressista.  

No lado oposto, a resistência e a luta dos povos evoluem, ainda que acidentadamente, com altos e baixos, avanços e recuos, na maioria das vezes contornando obstáculos aparentemente intransponíveis e percorrendo ínvias encruzilhadas.

O imperialismo exibe força descomunal e a cada momento convence os povos do seu poder de destruição. Mas não consegue retirá-los da luta, nem abater sua Resistência. É poderoso, mas não é capaz de impor sua vontade, mesmo que pela força. Não é invencível, pode ser derrotado.

No processo da luta, as forças do progresso social, da democracia popular, do socialismo formarão suas convicções, alcançarão níveis de organização e mobilização, acumularão os fatores favoráveis a abrir nova época histórica. O importante é não capitular, resistir e lutar, lutar e resistir. Nas condições atuais do mundo, resistir já é vencer.

Este blog será um espaço de debate e interação com todos aqueles que se dedicam à Resistência e confiam em que é possível abrir e percorrer os caminhos que levarão à emancipação da humanidade.